
247 - A presidente Dilma Rousseff (PT) aproveitou o
pronunciamento, em cadeia nacional, na noite desta quarta-feira (30), em
referência ao Dia do Trabalhador, para fazer uma ampla defesa do seu
governo, justificar o reajuste da tarifa da energia elétrica, reafirmar o
controle da inflação e reforçar sua posição em relação a Petrobras.
Ela também destacou os Pactos pela Nação, que formulou no ano
passado, após a onda de protestos que aconteceu no país, e voltou a
defender a reforma política com a participação de toda a sociedade.
Dilma anunciou ainda um pacote de medidas voltadas aos trabalhadores que
incluem reajuste de 10% no Bolsa Família e correção na tabela do
Imposto de Renda.
Numa fala com forte apelo aos trabalhadores –em vez de dirigir-se à
população com "meus queridos brasileiros e brasileiras" ou "meus amigos e
minhas amigas", diz "trabalhadores e trabalhadoras"–, a presidente
defendeu sua política de valorização do salário mínimo e atacou também a
oposição.
Ela anunciou o envio de medida provisória ao Congresso que modifica a
tabela do Imposto de Renda –nos últimos anos, a correção tem sido de
4,5%. "Assinei também um decreto que atualiza em 10% os valores do Bolsa
Família recebidos por 36 milhões de brasileiros beneficiários do
programa Brasil sem Miséria, assegurando que todos continuem acima da
linha da extrema pobreza definida pela ONU", disse Dilma.
Alvo de embate com adversários, a política de valorização do salário
mínimo, por sua vez, foi usada como arma para contra-atacá-los. Dilma
respondeu veladamente a série de críticas disparadas sobretudo pelo
pré-candidato Aécio Neves (PSDB-MG), seu principal adversário na corrida
ao Planalto neste ano. "Algumas pessoas reclamam que o nosso salário
mínimo tem crescido mais do que devia. Para eles, um salário mínimo
melhor não significa mais bem estar para o trabalhador e sua família,
dizem que a valorização do salário mínimo é um erro do governo e, por
isso, defendem a adoção de medidas duras, sempre contra os
trabalhadores", disse.
"Nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial, nem o
governo da mão dura contra o trabalhador", continuou a presidente.
"Nosso governo será sempre o governo da defesa dos direitos e das
conquistas trabalhistas, um governo que dialoga com os sindicatos e com
os movimentos sociais e encontra caminhos para melhorar a vida dos que
vivem do suor do seu trabalho", complementou.
Ao falar claramente das questões envolvendo a Petrobras, Dilma
defendeu o "combate incessante e implacável" à corrupção, citando o
trabalho da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União. "Sei que a
exposição desses fatos causa indignação e revolta a todos, seja a
sociedade, seja o governo, mas isso não vai nos inibir de apurar mais,
denunciar mais e mostrar tudo à sociedade, e lutar para que todos os
culpados sejam punidos com rigor", disse.
A presidente também condenou o que chamou de uso político da
Petrobras –desta vez, por parte de seus adversário, que, outra vez, não
citou nominalmente. "Não vou ouvir calada a campanha negativa dos que,
para tirar proveito político, não hesitam em ferir a imagem dessa
empresa que o trabalhador brasileiro construiu com tanta luta, suor e
lágrimas."
"O Brasil já passou por isso no passado e os brasileiros não aceitam mais a hipocrisia, a covardia ou a conivência", afirmou.
"Por isso a Petrobras jamais vai se confundir com atos de corrupção
ou ação indevida de qualquer pessoa. Não podemos permitir, como
brasileiros que amam e defendem seu país, que se utilize de problemas,
mesmo que graves, para tentar destruir a imagem da nossa maior empresa",
completou.
A presidente afirmou que garante que tem "força para continuar na
luta pelas reformas mais profundas que a sociedade brasileira tanto
precisa" e que o governo "tem o signo da mudança". "Junto com vocês,
vamos continuar fazendo todas as mudanças que forem necessárias para
melhorar a vida dos brasileiros, especialmente dos mais pobres e da
classe média", continuou.
"Se hoje encontramos um obstáculo, recomeçamos mais fortes amanhã,
porque para mim as dificuldades são fonte de energia e não de desânimo",
disse. "Se nem tudo ocorre no tempo previsto e desejado, isso é motivo
para acumular mais forças, para seguir adiante e, em seguida, mudar mais
rápido. É assim que se vence as dificuldades, é assim que se vai em
frente. Temos um lado, o lado do povo", ressaltou.
Leia a íntegra do pronunciamento:
Pronunciamento da Presidenta da República, Dilma Rousseff
30 de abril de 2014
Trabalhadores e trabalhadoras,
Neste primeiro de maio, quero reafirmar, antes de tudo, que é com
vocês e para vocês que estamos mudando o Brasil. Vocês que estão nas
fábricas, nos campos, nas lojas e nos escritórios, sabem que estamos
vencendo a luta mais difícil e mais importante: a luta do emprego e do
salário.
Não tenham dúvida: um país que consegue vencer a luta do emprego e do
salário, nos dias difíceis que a economia internacional atravessa, esse
país é capaz de vencer muitos outros desafios. É com este sentimento
que garanto a vocês que temos força para continuar na luta pelas
reformas mais profundas que a sociedade brasileira tanto precisa e tanto
reclama.
Nas reformas para aperfeiçoar a política, para combater a corrupção,
para aumentar a transparência, para fortalecer a economia e para
melhorar a qualidade dos serviços públicos.
Nosso governo tem o signo da mudança e, juntos com vocês, vamos
continuar fazendo todas as mudanças que forem necessárias para melhorar a
vida dos brasileiros. Especialmente dos mais pobres e da classe média.
Continuar com as mudanças, significa, também, continuar lutando
contra todo tipo de dificuldades e incompreensões. Porque mudar não é
fácil, e um governo de mudança encontra todo tipo de adversários que
querem manter seus privilégios e as injustiças do passado. Mas nós não
nos intimidamos.
Se hoje encontramos um obstáculo, recomeçamos mais fortes, amanhã.
Porque, para mim, as dificuldades são fonte de energia e não de
desânimo. Se nem tudo ocorre no tempo previsto e desejado, isso é motivo
para acumular mais forças. Para seguir adiante. E em seguida mudar mais
rápido. É assim que se vence as dificuldades. É assim que se vai em
frente.
Minhas amigas e meus amigos,
Acabo de assinar uma medida provisória corrigindo a tabela do imposto
de renda, como estamos fazendo nos últimos anos, para favorecer aqueles
que vivem da renda do seu trabalho.
Isso vai significar um importante ganho salarial indireto e mais dinheiro no bolso do trabalhador.
Assinei, também, um decreto que atualiza em 10% os valores do Bolsa
Família, recebidos por 36 milhões de beneficiários do programa brasil
sem miséria, assegurando que todos continuem acima da linha da extrema
pobreza, definida pela ONU.
Anuncio, ainda, que assumo o compromisso de continuar a política de
valorização do salário mínimo, que tantos benefícios vêm trazendo para
milhões de trabalhadores e trabalhadoras.
A valorização do salário mínimo tem sido um instrumento efetivo para
diminuição da desigualdade e para o resgate da grande dívida social que
ainda temos com os nossos trabalhadores mais pobres.
Algumas pessoas reclamam que o nosso salário mínimo tem crescido
"mais do que devia". Para eles, um salário mínimo melhor não significa
mais bem estar para o trabalhador e sua família.
Dizem que a valorização do salário mínimo é um erro do governo. E por
isso defendem a adoção de medidas duras. Sempre contra os
trabalhadores.
Nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial, nem o governo
da mão dura contra o trabalhador! Nosso governo será, sempre, o governo
da defesa dos direitos e das conquistas trabalhistas. Um governo que
dialoga com os sindicatos e com os movimentos sociais e encontra
caminhos para melhorar a vida dos que vivem do suor do seu trabalho.
Trabalhadoras e trabalhadores,
Meu governo também será sempre o governo do crescimento com
estabilidade, do controle rigoroso da inflação e da administração
correta das contas públicas.
Nos últimos anos o Brasil provou que é possível, e necessário, manter
a estabilidade e ao mesmo tempo garantir o salário e o emprego.
Em alguns períodos do ano, sei que tem ocorrido aumentos localizados
de preços, em especial dos alimentos. E esses aumentos causam incômodo
às famílias. Mas são temporários. Na maioria das vezes, motivados por
fatores climáticos.
Posso garantir a vocês que a inflação continuará rigorosamente sob
controle. Mas não podemos aceitar o uso político da inflação por aqueles
que defendem o "quanto pior, melhor". Temos credibilidade política para
dizer isso.
Nos últimos 11 anos, tivemos o mais longo período de inflação baixa
da história brasileira. Também o período histórico em que mais cresceu o
emprego e em que o salário mais se valorizou.
Neste período, o salário do trabalhador cresceu 70% acima da
inflação. Geramos mais de 20 milhões de novos empregos com carteira
assinada, sendo que 4,8 milhões no atual governo.
Neste mesmo período também conseguimos a maior distribuição de renda da história do brasil.
Trabalhadoras e trabalhadores,
É com seriedade e firmeza que quero voltar a falar das reformas que
iniciamos, e vamos continuar lutando para ampliá-las, em favor do
brasil.
Quero garantir a você, trabalhadora, e a você, trabalhador, que nossa luta pelas mudanças continua. Nada vai nos imobilizar.
A tarifa de luz, por exemplo, teve a maior redução da história. A
seca baixou o nível dos reservatórios, e tivemos de acionar as
termoelétricas, o que aumentou muito as despesas. Imagine se nós não
tivéssemos baixado as tarifas de energia elétrica em 2013.
Os investimentos que fizemos em geração e transmissão de energia
permitem, hoje, ao Brasil superar as dificuldades momentâneas, mantendo a
política de tarifas baixas.
Neste primeiro de maio, dia do trabalhador, dia de quem vive
honestamente do suor do seu trabalho, quero reafirmar o compromisso do
meu governo no combate incessante e implacável à corrupção.
Novos casos tem sido revelados por meio do trabalho da polícia
federal e da controladoria geral da união, órgãos do governo federal.
Sei que a exposição destes fatos causa indignação e revolta a todos -
seja à sociedade, seja ao governo. Mas isso não vai nos inibir de
apurar mais, denunciar mais e mostrar tudo à sociedade, e lutar para que
todos os culpados sejam punidos com rigor.
O que envergonha um país não é apurar, investigar e mostrar - o que
pode envergonhar um país é não combater a corrupção, é varrer tudo pra
baixo do tapete.
O Brasil já passou por isso no passado, e os brasileiros não aceitam mais a hipocrisia, a covardia ou a conivência.
É com esta franqueza que quero falar da Petrobras. A Petrobras é a
maior e mais bem sucedida empresa brasileira. É um símbolo de luta e
afirmação do nosso país. É um dos mais importantes patrimônios do nosso
povo.
Por isso, a Petrobras jamais vai se confundir com atos de corrupção ou ação indevida de qualquer pessoa.
O que tiver de ser apurado, deve e vai ser apurado, com o máximo
rigor. Mas não podemos permitir, como brasileiros que amam e defendem
seu país, que se utilizem de problemas, mesmo que graves, para tentar
destruir a imagem da nossa maior empresa.
Repito, aqui, o que disse há poucos dias em Pernambuco: não
transigirei, de nenhuma maneira, em combater qualquer tipo de malfeito,
ou atos de corrupção, sejam eles cometidos por quem quer que seja.
Mas igualmente não ouvirei calada, a campanha negativa dos que, para
tirar proveito político, não hesitam em ferir a imagem desta empresa que
o trabalhador brasileiro construiu com tanta luta, suor e lágrimas.
Trabalhadores e trabalhadoras,
Vocês lembram dos pactos que firmamos após as manifestações de junho.
Eles já produziram muitos resultados. Precisamos ampliá-los muito mais.
O pacto pela educação, por exemplo, gerou a lei que permitirá que a
maior parte dos royalties e dos recursos do pré-sal seja aplicada na
educação.
Isso vai melhorar o salário dos professores e revolucionar a qualidade do nosso ensino.
O pacto pela saúde viabilizou o Mais Médicos, e, em apenas seis meses, já colocamos mais de 14 mil médicos em 3.866 municípios.
E o que é mais importante: estes números significam a cobertura de atenção médica para 49 milhões de brasileiros.
O pacto pela mobilidade urbana está investindo 143 bilhões de reais, o
que permite a implantação de metrôs, veículos leves sobre trilhos,
monotrilhos, BRTs, corredores de ônibus e trens urbanos.
Com isso, estamos melhorando o sistema viário, e o transporte público, nas cidades brasileiras.
Além de acelerar as ações destes pactos, é preciso agora, sobretudo, tornar realidade o pacto da reforma política.
Sem uma reforma política profunda, que modifique as práticas
políticas no nosso país, não teremos condições de construir a sociedade
do futuro que todos almejamos.
Estou fazendo e farei tudo que estiver ao meu alcance para tornar
isso uma realidade. Foi assim que encaminhei ao congresso nacional uma
proposta de consulta popular para que o povo brasileiro possa debater e
participar ativamente da reforma política.
Sempre estive convencida que sem a participação popular não teremos a
reforma política que o Brasil exige. Por isso, além da ajuda do
congresso e do judiciário, preciso do apoio de cada um de vocês,
trabalhador e trabalhadora.
Temos o principal: coragem e vontade política. E temos um lado: o
lado do povo. E quem está ao lado do povo, pode até perder algumas
batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória.
Viva o primeiro de maio!
Viva a trabalhadora e o trabalhador brasileiros!
Viva o Brasil!